Como vem sucedendo todos os anos, a Worx Real Estate Consultants antecipa o lançamento do WMarket 2023-2024, a publicação anual que analisa o comportamento no ano transato dos diferentes setores do imobiliário comercial em Portugal, com uma síntese das principais conclusões e tendências para o ano em curso.
Relativamente ao ano transato, ano em que o volume total de investimento em imobiliário comercial em Portugal assinalou uma quebra de 45% (51% em termos europeus), o setor do retalho revelou-se como o mais resiliente tendo sido o único a registar um aumento do volume de investimento face ao ano anterior. Efetivamente, este setor captou, em 2023, mais de 500 milhões de euros, o valor mais elevado desde 2020.
No que concerne ao tipo de ativos, os supermercados atraíram mais de 40% do volume investido no setor, seguindo-se os centros comerciais (30%) e, por fim, os retail parks (18%).
Entre as principais transações do ano destacam-se o Projeto Amália envolvendo a aquisição de 49 supermercados pela LCN Capital Partners por 150 milhões de euros, o portfólio de cinco retail parks adquirido por um fundo da Partner Group e a venda do centro comercial La Vie Porto pela Caixa Geral de Depósitos.
No cenário europeu e logo após o setor hoteleiro, o retalho foi igualmente um dos setores menos sensível às variações da conjuntura macrofinanceira, ainda que com uma quebra de 40%. Não obstante, todos os principais mercados europeus assinalaram uma descompressão das yields prime e Lisboa não foi exceção com um aumento de 50 p.b.
De acordo com o Relatório relativo ao contexto europeu publicado pelo BNP Paribas Real Estate, entidade parceira da WORX no âmbito da BNP PARIBAS Real Estate Alliance Network, a evolução das rendas demonstrou um comportamento assimétrico nos diferentes mercados, com cidades como Helsínquia e Roma a registarem os maiores aumentos das rendas prime e Oslo, Madrid e Barcelona a evidenciarem os decréscimos mais acentuados.
Numa ótica dos resultados em Portugal, o contexto de inflação elevada ditou a desaceleração do consumo privado, ainda que com o crescimento positivo de 1% no índice de volume de negócios a retalho. Esta dinâmica revela-se ligeiramente mais favorável do que a média da Zona Euro que aponta, segundo dados do Eurostat, para uma quebra de 1%.
Apesar deste cenário de abrandamento, os centros comerciais descortinam resultados operacionais notáveis, evidenciando, de acordo com os dados divulgados pela APCC (Associação Portuguesa de Centros Comerciais), um aumento de 7% da faturação no último ano, o que comprova a atratividade deste tipo de ativos.
Por outro prisma, o segmento de luxo impulsionou a dinâmica do comércio de rua com a entrada de marcas internacionais no mercado português, nomeadamente a abertura das lojas das marcas francesas Dior e Isabel Marant na Avenida da Liberdade.
Por sua vez, o comércio online continuou a trajetória ascendente com um crescimento, em 2023, de 5% face ao ano anterior. Contudo, tendo em conta que Portugal mantém uma das taxas de penetração de e-commerce mais reduzidas da Europa, é natural que a importância da loja física para o consumidor português se mantenha, não obstando, todavia, ao potencial de crescimento do e-commerce nos próximos anos. Note-se, que os grandes grupos de retalho optam, cada vez mais, pela adoção de estratégias multicanal em detrimento de uma aposta exclusiva no comércio online, com a integração de sistemas de click & collect nas respetivas lojas.
Em face da conjuntura, para o presente ano de 2024 antevê-se uma dinâmica moderada no comportamento do comércio a retalho, provavelmente semelhante à do último ano, com a inflação ainda acima dos 2% a limitar o rendimento disponível das famílias e, consequentemente, o consumo privado, este com projeções que apontam para um crescimento de 1% em 2024 e uma ligeira aceleração para 1,7% no ano de 2025.
Publicado na Magazine Imobiliário no dia 15 de Fevereiro 2024.