Ao olharmos para o mercado de escritórios em Lisboa no decurso do 1º semestre de 2022, devemos destacar a sua resiliência e o seu dinamismo, ultrapassando os desafios do contexto atual.
Um dos sinais desta resiliência é o volume de absorção de 168.300 m2 de espaços de escritórios na Grande Lisboa, no 1º semestre do ano, distribuído por 105 operações. Estes níveis de procura efetivada mais que quadruplicaram face ao período homólogo e já ultrapassam os valores registados no mercado de escritórios no final do ano 2021, de 161.600 m2.
Estes números são influenciados por algumas grandes operações, em parte de ocupação própria e outras contratualizadas mas mas cujas ocupações apenas se realizarão no futuro, como no caso de novas sedes e edifícios que ainda não foram concluídos.
A ocupação de quase 28.000 m2 da Fidelidade na sua futura sede em Entrecampos, e a compra do BNP Paribas de dois edifícios em construção no Parque das Nações com mais de 38.000 m2, protagonizaram as maiores operações do ano até agora. Assim, o Parque das Nações (zona 5) e a Zona Emergente (zona 3) foram as zonas que concentraram a maior parte da procura do mercado de escritórios, 30% e 24% respetivamente.
Os principais projetos em pipeline, inclusivamente os especulativos, continuam a avançar com grande urgência para dar resposta a uma procura forte e crescente, sobretudo nas localizações mais centrais da cidade.
Procura robusta, mesmo no contexto atual de relativa incerteza
Paralelamente, existem alguns fatores no contexto nacional e internacional que despertam atenção na influência que poderão ter na tomada de decisão dos players do mercado imobiliário.
Com impacto mais imediato, temos o aumento dos custos de construção e a incerteza da disponibilidade e prazos de entrega dos materiais. Do lado dos proprietários, é necessária uma especial precaução no planeamento e orçamento dos contratos de empreitada, que tenha em conta esta imprevisibilidade e a necessidade de eventuais ajustes. Do lado dos arrendatários, estes impactos nos projetos de fit out levam a que as decisões de mudança de instalações sejam mais ponderadas, havendo em parte uma aposta nas renegociações dos contratos de arrendamento.
Também a instabilidade do mercado das fintech nos EUA pode levar igualmente a que algumas das empresas mais expostas a estes mercados não se encontrem num momento propício para mudar as suas instalações, colocando estas decisões on hold.
Por outro lado, o aumento da taxa de inflação e da taxa de juros levantam um clima de incerteza acrescida, ainda que o imobiliário tradicionalmente represente um bom refúgio.
Ainda assim, Portugal mantém-se numa trajetória crescente com as suas excelentes características intrínsecas, em termos de segurança, bom clima e os salários baixos, a manterem a atratividade do país face aos mercados internacionais concorrentes mais do que nunca.
Sustentabilidade em destaque no mercado de escritórios
Outra tendência que tem vindo a ganhar destaque no mercado de escritórios é o tema da sustentabilidade. O setor já representa 56% das certificações LEED aprovadas e 14% das certificações BREEAM concedidas, não havendo ainda edifícios com certificação WELL.
Os proprietários de edifícios de escritórios estão a apostar em força na obtenção das principais certificações de sustentabilidade desde o início dos projetos, principalmente na construção nova, mas também nos projetos de reabilitação, ainda que com uma dificuldade acrescida. Considerando o atraso que existe no mercado português face ao contexto europeu, é muito relevante que as certificações sejam agora vistas como algo imperativo e não apenas como um extra mercado de escritórios, dado que há empresas multinacionais que praticamente já só olham para edifícios certificados.
O mais recente estudo da PwC e da Worx, apresentado no dia 12 de Julho no Palácio Sottomayor, revela que os proprietários valorizam mais a certificação LEED para a sua estratégia de sustentabilidade (45%), sendo também a mais reconhecida pelos arrendatários de espaços de escritórios (72%). Seguem-se as certificações BREEAM e WELL que também são consideradas relevantes (36%). Já dos poucos proprietários que ainda não consideram apostar nestas certificações (32%), todos garantem que querem tornar os seus ativos mais eficientes (100%).