O mercado imobiliário em 2023 vai sofrer uma crise?
Em 2022 assistimos a uma retoma muito importante no mercado imobiliário, no contexto pós Covid-19, que foi notória e transversal a todos os segmentos. No entanto, nesta altura, e devido às circunstâncias geopolíticas que atravessamos, há um grande receio relacionado com a inflação e o aumento das taxas de juro e o seu impacto no mercado imobiliário em 2023 – vamos agora ter um desafio para o imobiliário, não somente no imediato, mas para os próximos anos.
Nos grandes desafios para 2023, e sendo algo que nos toca a todos, destacam-se a responsabilidade social e a sustentabilidade, que deverão ser os principais focos de acção, por serem transversais não apenas ao imobiliário, mas a toda a economia.
Acredito que existem também áreas que entram no espectro da sustentabilidade e que terão impacto no mercado imobiliário em 2023. O investimento em infraestruturas como as ferrovias é uma delas. Uma forma de dinamizar o setor imobiliário fora dos grandes centros urbanos, criando condições para que os portugueses consigam comprar as suas residências, ao mesmo tempo que dinamizamos as regiões do interior do país, pode passar precisamente por este desenvolvimento da rede ferroviária.
Por outro lado, precisamos que sejam criadas condições para o desenvolvimento do mercado build to rent. Estes novos modelos de investimento imobiliário permitem colocar no mercado mais habitação, com valores mais acessíveis. Há uma acentuada escassez de oferta no mercado de arrendamento, que precisar de ser combatida. E é igualmente necessário construir casas com áreas mais eficientes e adequadas às necessidades atuais.
Como reagirá o mercado imobiliário em 2023?
Antevejo que o próximo ano será um ano desafiante, mas temos de ser realistas e assumir que os últimos oito anos foram totalmente atípicos, com taxas de juro negativas, e agora temos, forçosamente, de normalizar e voltar às taxas de juro positivas. Este vai ser um período de transição, e o facto de termos uma percentagem de empréstimos indexados a taxas de juro variáveis tão elevadas, vai provocar maior impacto.
É certo que este aumento da inflação representa um grande desafio num futuro próximo, porque todas as transições são dolorosas, e os próximos tempos serão conturbados. Mas, ao mesmo tempo que os períodos de desafios são mais exigentes, são aqueles nos quais as empresas mais se reinventam. Depois da crise no seguimento da falência do Lehman Brothers, assistimos ao surgimento de muitas empresas mais resilientes. Claro que tudo isto tem uma consequência social e afeta famílias e empresas, mas temos de ter os pés bem assentes na terra e saber que a vida é feita de desafios.
Estamos no mercado há 26 anos, já passámos por muitos ciclos, nem todos positivos, mas ultrapassámos todos e estamos aqui de pedra e cal.
Análise de Pedro Rutkowski – CEO da Worx, publicado no Especial Imobiliário e Reabilitação Urbana, do Jornal Económico, de 16 de dezembro de 2022.