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Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030: uma miragem?

Inês Martins – Marketing Manager

Começo este artigo com um desafio: será que consegue encontrar um jornal ou revista em que a palavra sustentabilidade não surja? Parece difícil, não é? Eu diria mesmo, impossível.

Nos últimos anos, a palavra sustentabilidade tornou-se frequentemente referida nos media, em eventos, em estratégias empresariais e até nas conversas do dia-a-dia. Apesar do discurso crescente sobre este tema, o progresso real em direção ao desenvolvimento sustentável permanece decepcionantemente lento. O mais recente Sustainable Development Report 2024* (SDR), sublinha esta realidade preocupante, revelando que, enquanto a retórica em torno da sustentabilidade é omnipresente, os avanços concretos para alcançar os ODS são lamentavelmente inadequados e insuficientes.

Desde 2016, o SDR tem analisado os progressos feitos em cada ano relativamente aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), adoptados em 2015 pelos 193 membros das Nações Unidas, permitindo avaliar de forma abrangente os esforços globais.

A edição de 2024, publicada neste mês de Junho, revela-nos um cenário sombrio: apenas 16% das metas definidas nos ODS estão no caminho certo para serem alcançadas até 2030. As restantes 84% mostram progressos limitados e, em alguns casos, assistimos mesmo a regressões. Assim, em termos globais, o progresso dos ODS tem estado estagnado desde 2020, com alguns ODS particularmente atrasados: ODS 2 (Erradicar a Fome), ODS 11 (Cidades e Comunidades Sustentáveis), ODS 14 (Proteger a Vida Marinha), ODS 15 (Proteger a Vida Terrestre) e ODS 16 (Paz, Justiça e Instituições Eficazes).

O relatório também destaca o desafio do investimento a longo prazo no desenvolvimento sustentável. Alcançar os ODS requer recursos financeiros extensivos, e requer, no que às empresas diz respeito, investimento em inovação, formação e recursos. É preciso mudar a forma de trabalhar, de produzir e de consumir, para que, com uma estratégia de cooperação global e transversal, se consiga chegar mais perto das metas definidas em 2015, já que atingi-las parece impossível.

E se é certo que a conversa em torno da sustentabilidade se intensificou, o SDR deixa claro que falar não é suficiente. Aqui, o papel do marketing e das estratégias ESG das empresas torna-se crucial. Muitas empresas utilizam ações de marketing para comunicar os seus esforços de sustentabilidade, mas nem todas as alegações são genuínas, levando ao fenómeno conhecido como greenwashing.

As empresas têm, assim, o desafio de comunicarem de forma transparente e autêntica as suas iniciativas de sustentabilidade, baseando-se em dados verificáveis e em acções reais, para não prejudicar a confiança dos consumidores.

Simultaneamente, as empresas têm o desafio e o poder de mudar a forma como os seus clientes consomem. Sendo verdade que, tanto do lado das empresas como dos consumidores, o driver da mudança estará sempre em boa parte assente na questão financeira, o desafio é encontrar este equilíbrio. É urgente que as empresas se reinventem, que mudem os seus produtos e os seus serviços, que integrem práticas ESG nas suas estratégias e que saibam comunicá-las de forma transparente.

O papel do marketing e da comunicação passa aqui por saber de que forma as estratégias empresariais podem estar verdadeiramente alinhadas com os ODS, mas de forma que os consumidores também sintam a necessidade de consumir produtos e serviços alinhados com estes mesmos ODS. Como se isto não fosse já desafiante o suficiente, é preciso ainda garantir que estes ODS não põem em causa a sustentabilidade dos negócios e empresas. Também parece difícil, não é? Mas, neste caso, eu diria mesmo que é possível.

O caminho para a sustentabilidade é longo e exige muito mais do que palavras. A comunidade global deve passar da retórica à acção, implementando urgentemente estratégias e reformas abrangentes para fazer progressos significativos em direção aos ODS. O desafio é grande e o tempo está a esgotar-se. Apenas através de um compromisso genuíno e de um esforço colaborativo podemos esperar alcançar um futuro sustentável para todos.

 

Artigo de Opinião de Inês Martins, Marketing Manager, publicado na Ambiente Magazine no dia 21 de junho 2024.

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