O setor industrial e logístico em Portugal destaca-se atualmente como um dos mais dinâmicos no mercado imobiliário comercial, impulsionado essencialmente pelo crescimento do comércio online e pela adoção de estratégias de nearshoring por parte das empresas. Prova disto mesmo são os dados mais recentes que apontam para um crescimento notável da procura, com mais de 400.000 metros quadrados (m²) ocupados na primeira metade de 2024.
Em contraciclo com alguns dos principais mercados europeus, onde se verifica uma recuperação mais morosa, Portugal deverá continuar a beneficiar da sua competitividade em termos de custos no contexto europeu, para impulsionar o crescimento do sector industrial e logístico nos próximos anos.
Porém, este crescimento acarreta desafios prementes quanto à capacidade de resposta instalada no País, num sector caracterizado pela desatualização do stock face aos padrões de qualidade internacionais. Com o histórico de uma atividade de promoção de novos ativos incipiente, verifica-se atualmente um momento sem precedentes no sector industrial e logístico, em termos de volume de novos desenvolvimentos rumo a uma maior qualificação da oferta.
Apesar da robusta dinâmica de promoção, uma grande fatia da mesma consiste em desenvolvimento para ocupação própria, pelo que a taxa de disponibilidade no sector se deverá manter baixa, mantendo-se a necessidade de colocar produto no mercado e atualizar o existente.
Neste contexto, as normas de sustentabilidade e políticas de ESG surgem como um dos principais desafios atualmente no que toca ao nosso posicionamento, face a outros mercados europeus, onde a certificação BREEAM “Excellent” já é o padrão.
Efetivamente, os promotores começam a endereçar estas questões nos novos projetos, sendo exemplo disso o Ermida Park – Parque Logístico da Ermida e o Hub de Distribuição da DPD, com conclusão prevista para este ano, bem como os projetos da Panattoni previstos para os próximos anos, com certificações BREEAM. Porém, Portugal ainda tem um longo caminho a percorrer para se equiparar a outros mercados europeus em matéria de qualificação da sua oferta no sector industrial e logístico.
Aludindo ao stock presente, existe igualmente um grande potencial para desenvolvimento no eixo entre o Pior Velho e o Carregado, através da reabilitação das inúmeras fábricas desativadas nesta zona, tirando partido da atratividade da mesma pela sua proximidade à cidade de Lisboa.
A elevada procura e baixa taxa de disponibilidade neste eixo, deverá levar alguns promotores, que privilegiam esta proximidade e se deparam com a escassez e o custo dos terrenos na Grande Lisboa, a apostar na reabilitação destes ativos para criarem aqui oportunidades de investimento no sector industrial e logístico.
Em suma, o incremento considerável no stock esperado para este ano não será suficiente para suprir as necessidades atuais e futuras de uma procura em franco crescimento. Desta forma, antecipa-se um futuro auspicioso para o sector industrial e logístico nos próximos anos, ainda que com vários desafios para nos equipararmos a nível internacional. O mercado está a crescer e as oportunidades existem, só temos de elevar a fasquia.
Artigo de Opinião de Catarina Branco, Research Analyst da Worx, publicado na Magazine Imobiliário no dia 4 de outubro 2024.